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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Escrito por em 8.12.14 com 0 comentários

Terra de Gigantes

Como eu disse aqui uma vez, parece que, conforme os posts de numeração significativa vão chegando, me dá uma vontade de "completar" assuntos que ficaram "faltando". Pois bem: eu já falei aqui sobre Irwin Allen, considerado por muitos um gênio do cinema e das séries de TV. Em seu currículo, Allen pode incluir a criação de quatro das séries mais clássicas da TV dos anos 1960. Dessas quatro, eu já falei de três. Hoje é o dia de falar da quarta. Hoje é dia de Terra de Gigantes.

Das três séries que Allen havia produzido até então, sem dúvida, a de maior sucesso havia sido Perdidos no Espaço. Quando O Túnel do Tempo foi cancelado após apenas uma temporada e Viagem ao Fundo do Mar falhou em emplacar uma quinta, portanto, Allen decidiu retornar à mesma fórmula, usando uma equipe perdida em um planeta desconhecido. Dessa vez, entretanto, ele usaria como inspiração o livro As Viagens de Gulliver, e criaria um planeta de gigantes.

esquerda: Steve, Betty, Valerie e Barry; direita, de cima para baixo: Fitzhugh, Mark e Dan

Os "perdidos" da ocasião não são astronautas, cientistas, ou sequer voluntários para a viagem. Em um futuro não muito distante (da época), no ano de 1983, a humanidade terá inventado um novo meio de transporte, o voo sub-orbital. Lançada em direção à atmosfera, uma aeronave circunda a Terra em altíssima velocidade, indo da América à Europa em questão de minutos. Durante um desses voos, a aeronave Spindrift, que decolou de Los Angeles e deveria aterrisar em Londres, sofre um acidente bizarro: atingida por uma tempestade espacial, ela é jogada dentro de um vórtice, indo para em um planeta desconhecido, ninguém sabe a que distância da Terra.

Como se isso por si só já não fosse terrível o bastante, o planeta ainda possui uma característica incomum: todos os seres vivos de lá são gigantescos, doze vezes maiores que seus equivalentes da Terra. Os habitantes do local, chamados (muito apropriadamente) de "gigantes" pelos passageiros da Spindrift, têm por volta de 20 metros de altura, e vivem em uma sociedade que lembra os Estados Unidos da década de 1950, mas com um governo totalitário que não admite dissidentes. Na queda, a Spindrift é avariada, escondida por seus passageiros e serve de abrigo, mas, ao tomar conhecimento do acidente e de que há sobreviventes, o governo dos gigantes determina que eles devem ser capturados a qualquer custo, pois, apesar de serem pequeninos, possuem tecnologia mais avançada, o que é visto como uma ameaça.

Os viajantes, que se tornam, então, fugitivos, incluem o Capitão Steve Burke (Gary Conway), piloto da Spindrift; Dan Erickson (Don Marshall), seu co-piloto; Betty Hamilton (Heather Young), a aeromoça; e os passageiros Mark Wilson (Don Matheson), um engenheiro em ascenção profissional; a estrela de cinema rica e mimada Valerie Scott (Deanna Lund); o Comandante da Marinha Alexander B. Fitzhugh (Kurt Kasznar); e o menino órfão Barry Lockridge (Stefan Arngrim), que viaja em companhia de seu cachorro Chipper. Após o acidente, esse grupo tão heterogêneo tem de deixar suas diferenças de lado e trabalhar em conjunto para não ser capturado pelos gigantes - que, aliás, não são a única ameaça que enfrentam: Fitzhugh, na verdade, é um ladrão de bancos que decidiu de disfarçar de Oficial da Marinha para fugir, e está disposto a fazer um acordo com os gigantes para entregar o grupo e salvar sua pele. Ambicioso e medroso, Fitzhugh acaba fazendo amizade com Barry, único membro do grupo de quem genuinamente gosta, e suas "aventuras" ao lado do menino e do cachorro lembram as situações que o Dr. Smith, personagem com o qual Fitzhugh é bastante parecido, se envolviam com Will Robinson e o Robô em Perdidos no Espaço.

Da parte dos gigantes, não havia nenhum personagem do elenco fixo, embora o Inspetor Kobick, chefe da polícia dos gigantes (Kevin Hagen) fosse um personagem recorrente, aparecendo em diversos episódios. Muitos atores famosos de séries dos anos 1960 fizeram participações especiais em alguns episódios, como Michael Ansara (de Buck Rogers e Jornada nas Estrelas, onde interpretou o klingon Kang), Warren Stevens (que fez participações em Viagem ao Fundo do Mar, O Túnel do Tempo, Bonanza, Jornada nas Estrelas e M.A.S.H., dentre outras), Alan Hale Jr. (o Capitão de Gilligan's Island - A Ilha dos Birutas) e até mesmo Jonathan Harris (o Dr. Smith de Perdidos no Espaço).

Terra de Gigantes estrearia em 22 de setembro de 1968, no canal ABC. De início, a ABC planejava usá-la para "tapar um buraco" entre o final de uma temporada e o início de outra de uma de suas séries já em andamento, encomendando apenas 12 episódios, mas, após assistirem a alguns, os executivos decidiriam bancar uma temporada completa, de 26 episódios. Como não havia nenhuma série de saída para ser substituída, Terra de Gigantes acabaria inaugurando um novo horário de séries na emissora, substituindo programação local (como telejornais regionais e programação produzida por afiliadas da ABC, por exemplo). A maior parte dos episódios envolvia os humanos sendo capturados pelos gigantes e tendo de encontrar uma forma de escapar, enquanto se aventuravam pela cidade em busca de provisões e, talvez, de uma forma de voltar para casa.

A série rapidamente se tornaria não a mais bem sucedida, mas a mais cara de toda a década de 1960. Graças aos efeitos especiais de última geração necessários para criar a convivência entre os humanos e gigantes, que faziam estensivo uso do chroma key - aquela tela azul ou verde hoje tida como certa em qualquer filmagem, mas que na época era uma novidade bastante cara - e de objetos de cena gigantescos - tudo, de clipes de papel a sapatos, de latas de comida a telefones, tinha de ter uma versão doze vezes maior que o normal - cada episódio acabava custando por volta de 250 mil dólares, um valor mais do que absurdo para a época. Além disso, como era tudo gigante, os atores frequentemente se viam pendurados, saltando grandes distâncias e erguendo objetos pesados; para economizar com os dublês, e aumentar a sensação de veracidade, Allen recomendou que todos estivessem em perfeita forma física - de fato, todos, exceto Kasnar e Arngrim, filmavam suas próprias cenas de ação, sem o uso de dublês.

Para tentar cortar custos, a Fox, que produzia a série e vendia para a ABC, criou um método de filmagem, digamos, interessante: dois episódios eram filmados de cada vez, sempre usando os mesmos cenários e objetos de cena, que, então, podiam ser "reciclados" e transformados em outros - dois episódios, por exemplo, eram ambientados em um laboratório dos gigantes, com objetos como tubos de ensaio e microscópios gigantescos, que depois não voltariam a aparecer, sendo transformados em outros objetos, e uma mesa de laboratório gigante que em outros episódios se tornaria uma mesa de jantar gigante ou uma mesa de escola gigante. Para que o público não percebesse o truque, os episódios deveriam ser exibidos fora da ordem em que foram filmados, o que exigiu que todos os roteiros ficassem prontos com antecedência.

Na hora de exibir os episódios, aliás, a ABC conseguiu fazer uma senhora bagunça. Talvez por não entender o planejamento da Fox sobre em que ordem os episódios deveriam ser exibidos, ela os exibiu como bem entendeu - o episódio que deveria ser o 14o, por exemplo, acabou sendo o segundo, indo ao ar logo na semana seguinte ao piloto. Como cada episódio possuía uma história fechada, isso não afetou a compreensão do enredo, mas acabou gerando alguns problemas de continuidade - no meio da temporada, por exemplo, como era comum em séries dos anos 1960, Betty e Valerie ganharam novas roupas, e exibir os episódios fora da ordem fazia com que elas ficassem "trocando de roupa" com frequência. Além disso, nos primeiros episódios, estava estabelecido que os gigantes se moviam muito lentamente e quase não falavam, preferindo grunhir, o que foi alterado a partir do 12o, a partir do qual os gigantes passaram a se mover e falar como pessoas normais, para que uma maior interação entre os humanos e os gigantes pudesse ser explorada; com os episódios sendo exibidos fora de ordem, os gigantes de comportavam normalmente em um deles, para se mover lentamente e grunhir no seguinte, voltar a se comportar normalmente no próximo, e assim por diante.

Mesmo com todos esses percalços, a primeira temporada teria boa audiência, e a ABC encomendaria uma segunda, de mais 25 episódios, que estrearia em 21 de setembro de 1969. Na segunda temporada, os gigantes começaram a experimentar tecnologias mais avançadas, como androides e computadores, e, em alguns episódios, os visitantes encontrariam sobreviventes de outros voos da Terra, que passaram pelo mesmo vórtice que eles, o que lhes deu um novo ânimo para descobrir uma forma de voltar para casa. No geral, porém, a temporada foi mais do mesmo, com os humanos sendo capturados e tendo de arrumar uma forma de fugir a cada episódio.

A audiência da segunda temporada foi mais baixa que a da primeira, o que fez com que a ABC não se empolgasse para renovar a série novamente. O último episódio iria ao ar em 6 de setembro de 1970. Nos anos seguintes, a série seria reprisada em vários canais em regime de syndication, o que contribuiria para que ela adquirisse status de cult, tendo uma grande base de fãs até hoje. Por maiores que fossem os esforços desses fãs, porém, ninguém jamais se interessou em retomar a série ou em realizar novas versões, provavelmente devido aos custos elevados que filmar uma série desse tipo significariam.

Depois de Terra de Gigantes, Allen ainda chegou a produzir mais duas séries para a TV, The Swiss Family Robinson, inspirada no mesmo livro que deu origem a Perdidos no Espaço, e foi exibida em 1975 e 1976; e Code Red, sobre um quartel de bombeiros, exibida em 1981 e 1982. Nenhuma das duas fez sucesso, tendo apenas uma temporada cada, de 20 e 19 episódios respectivamente. No cinema, por outro lado, Allen seria bastante bem sucedido, emplacando sucessos como O Destino do Poseidon (1972), Inferno na Torre (1974) e O Enxame (1978). Allen se aposentaria em 1986, e faleceria em 1991, aos 75 anos, ao ter um infarto fulminante.
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segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Escrito por em 20.10.14 com 0 comentários

Viagem ao Fundo do Mar

Quando eu escrevi o post sobre O Túnel do Tempo, fiquei com vontade de escrever outro, sobre outra série clássica dos anos 1960 criada por Irwin Allen. Para não fazer dois seguidos, resolvi segurá-lo um pouco. Outros assuntos vieram, e hoje eu me lembrei. Assim, hoje é dia de Viagem ao Fundo do Mar!

Viagem ao Fundo do Mar foi a primeiríssima das séries de TV criadas por Allen, que depois criaria três superclássicos: Perdidos no Espaço, O Túnel do Tempo e Terra de Gigantes. Antes de criar a série, entretanto, Allen não era exatamente um ninguém, mas um diretor de cinema razoavelmente bem-sucedido, tendo estreado com dois documentários (O Mar que nos Cerca e O Milagre da Vida) e depois passado para os filmes de fantasia e ficção científica (A História da Humanidade e O Mundo Perdido). O quinto filme de sua carreira seria, justamente, Viagem ao Fundo do Mar.

No filme, que estreou em 12 de julho de 1961 e é ambientado em um futuro próximo não especificado, a tripulação do submarino nuclear de última geração Seaview está realizando uma missão de rotina no oceano ártico. Comandado pelo Capitão Lee Crane (Robert Sterling) e tendo a bordo, dentre outros, o inventor do Seaview, Almirante Harriman Nelson (Walter Pidgeon); o cientista Lucius Emery (Peter Lorre); a Tenente Cathy Connors (Barbara Eden, de Jeanie é um Gênio); e a Dra. Susan Hiller (Joan Fontaine), que estuda os efeitos do estresse sobre a triupulação de um submarino; o Seaview deve permanecer durante 96 horas sob o gelo ártico, executando uma série de manobras e medições.

Enquanto a embarcação realiza sua missão, porém, o gelo estranhamente começa a derreter, e, ao emergir, a tripulação vê que o céu está em chamas. Após salvar o pesquisador Miguel Alvarez (Michael Ansara) e seu cachorro, eles descobrem o que está acontecendo: uma chuva de meteoros pôs fogo no Cinturão de Van Allen, uma camada de radiação que envolve a Terra. Com o Cinturão em chamas, a temperatura do planeta está subindo minuto a minuto, e, em pouco tempo, ninguém mais conseguirá sobreviver.

Nelson e Emery bolam um arriscado plano para evitar o pior: segundo os cálculos de Nelson, se o Seaview disparar um míssil nuclear de um ponto exato da Fossa das Marianas, em um dia e hora exatos, a explosão extinguirá o fogo, salvando o planeta. Eles expõem o plano em uma reunião de emergência da ONU, mas não conseguem autorização para colocá-lo em prática, principalmente devido à campanha contrária do cientista austríaco Emilio Zucco (Henry Daniell), que acredita que o fogo se extinguirá sozinho antes de acabar com a vida na Terra. Não sendo convencidos por esse argumento, a tripulação do Seaview decide zarpar mesmo assim, e, enquanto tenta chegar no ponto estabelecido para o lançamento, tem de lidar com vários percalços, como um campo minado, uma lula gigante e até mesmo um sabotador a bordo.

O filme dividiu a crítica, mas foi um gigantesco sucesso de público - com orçamento de pouco mais de um milhão e meio de dólares, rendeu sete nas bilheterias. Parte desse sucesso se deveu ao fato de ele aproveitar em seu enredo assuntos atuais da época: em 1958, o USS Nautilus, primeiro submarino nuclear da história, realizou missões no ártico, buscando, principalmente, cruzar do Oceano Atlântico para o Pacífico por baixo da calota polar, numa aventura à qual a imprensa da época se referia como "viagem ao topo do mundo" - o título do filme, aliás, é um trocadilho com essa frase. Em 1960, o batiscafo (espécie de minissubmarino adaptado para grandes profundidades) Trieste se tornaria a primeira embarcação a explorar a Fossa das Marianas, ponto de maior profundidade do planeta. E o Cinturão de Van Allen também era uma descoberta recente que chegou a ter algum destaque nos jornais; na época, ninguém sabia muito bem do que ele era feito, para que servia ou como se comportava, de forma que quase todas as informações apresentadas no filme foram inventadas, sendo desmentidas por descobertas mais recentes - hoje já se sabe, por exemplo, que é impossível que o Cinturão pegue fogo, pois não há oxigênio suficiente por lá.

A maior parte do orçamento do filme foi usada na construção dos cenários do interior do Seaview, objetos de cena e modelos dos veículos e instalações militares. Quando as filmagens terminaram, para tentar recuperar parte do dinheiro investido, a Fox, produtora do filme, decidiu não descartar esses itens, e os armazenou com o intuito de reutilizá-los em outras produções do estúdio. Com o sucesso do filme, Allen, que já vinha pensando em produzir uma série para a TV, decidiu aproveitar que a Fox tinha essas coisas todas guardadas e, em 1963, ofereceu ao estúdio o piloto de uma série de Viagem ao Fundo do Mar. Como os custos de produção seriam baixíssimos - praticamente só precisariam pagar os atores, pois os cenários estavam prontos e o pessoal técnico era empregado do estúdio mesmo - a Fox concordou em produzir um piloto, que ofereceu ao canal ABC. O canal gostou da premissa, e encomendou uma primeira temporada.

Assim como várias séries dos anos 1960 e 1970 baseadas em filmes (Planeta dos Macacos me vem à mente), Viagem ao Fundo do Mar não é continuação do filme. Na verdade, é como se o filme nem existisse. O Seaview é o mesmo e os personagens são os mesmos, mas parece que todos se conheceram agora, e ninguém jamais menciona os eventos do filme. Sinceramente, nunca entendi como uma série desse tipo podia se aproveitar do sucesso do filme no qual se baseou, mas tudo bem.

No piloto, ambientado em meados da década de 1970 - o futuro, portanto, já que a série é do início da década de 1960 - somos apresentados ao Seaview e a seu criador, o Almirante Harriman Nelson (Richard Baseheart), criador do Instituto Nelson de Pesquisa Marinha, sediado em Santa Barbara, Califórnia. Oficialmente, Nelson cria o Seaview para exploração e pesquisa, mas, graças a um contrato com a Marinha dos Estados Unidos, ele passa a ser também a principal defesa do país contra ameaças marítimas, sejam nacionais, internacionais, ou até mesmo extraterrestres. O Capitão do submarino é Lee Crane (David Hedison), originalmente o segundo em comando, mas que assume o posto depois que o Capitão anterior é misteriosamente assassinado no começo do piloto. Outros membros da tripulação incluem o novo segundo em comando, Tenente-Comandante Chip Morton (Bob Dowdell); o Chefe Curly Jones (Henry Kulky), responsável pela engenharia do submarino; e o médico da embarcação (Richard Bull), chamado por todos apenas de "Doutor". Curiosamente, enquanto o filme tinha duas mulheres em posições de destaque, a série não tem nenhuma mulher dentre a tripulação do Seaview, com todas as personagens femininas sendo participações especiais de no máximo três episódios cada.

A primeira temporada teria 32 episódios em preto e branco - curiosamente, a Fox produziria o piloto em cores, mas a ABC, argumentando que a maioria dos lares norte-americanos ainda não tinha televisores a cores, e que a filmagem em cores era mais cara, pediu que os episódios fossem produzidos em preto e branco - o primeiro estreando em 14 de setembro de 1964. A primeira temporada introduziria dois novos veículos usados pela tripulação e guardados dentro do Seaview, um batiscafo para exploração de grandes profundidades e um minissubmarino para locais onde o Seaview era grande demais para alcançar. A maior parte das histórias tinha o clima da Guerra Fria, tão presente na época, com governos estrangeiros ameaçando os Estados Unidos e o Seaview tendo de agir para impedi-los - no piloto, por exemplo, eles devem impedir uma nação estrangeira de provocar um terremoto, e em outros episódios os objetivos são evitar que a frota de submarinos dos Estados Unidos seja destruída por um ataque secreto e recuperar uma importante arma roubada por um espião. Alguns episódios mostravam missões de exploração do Seaview, durante as quais ele se deparava com perigos como monstros marinhos, lixo nuclear abandonado ou até mesmo artefatos extraterrestres. Em suma, a série fazia uma mistura de espionagem e ficção científica, tendo o fundo do oceano como cenário.

Essa mistura pareceu dar certo, pois a primeira temporada teve bons índices de audiência, que levaram a ABC a encomendar uma segunda. Ao contrário do que eles imaginavam, grupos de estudo demonstraram que a maioria dos espectadores preferiria que a série fosse em cores, então, da segunda temporada em diante, os episódios passariam a ser coloridos. Para compensar o aumento nos custos, o número de episódios por temporada seria reduzido.

Assim, a segunda temporada, de 26 episódios em cores, estrearia em 19 de setembro de 1965. Além de uma mudança do preto e branco para a cor, a ABC também pediu para que a Fox desse uma amenizada nos episódios, fazendo-os mais leves e "apropriados para toda a família"; o resultado foi um número maior de episódios no estilo "monstro da semana" - o Seaview encontra uma criatura ou agente inimigo, ou um perigo qualquer, como um vulcão, e toda a ameaça decorrente desse encontro era resolvida no próprio episódio, sem nenhuma implicação futura. Para não se afastar demais do estilo da série, a Fox ainda chegou a produzir alguns episódios no estilo Guerra Fria, mas foram poucos.

Nelson e CraneA Fox também gastou um dinheirinho extra para reformar alguns cenários, tornando o interior do Seaview mais futurista. Para aproveitar que o seriado agora era em cores, a tripulação também ganhou novos uniformes coloridos, em azul e vermelho - os da primeira temporada eram todos na cor cáqui. Uma das maiores novidades da segunda temporada foi o Flying Sub, um minissubmarino amarelo em formato de arraia que podia operar tanto sob a água quanto voando, aumentando as opções exploratórias da tripulação. Tripulação, aliás, que teve uma mudança, a substituição do Chefe Curly pelo Chefe Francis Sharkey (Terry Becker), necessária devido à morte de Henry Kulky, que interpretava Curly. Em três episódios, Richard Bull também seria substituído por Wayne Heffley no papel do médico, mas depois retornaria.

Também é interessante registrar que dois episódios da segunda temporada fizeram uso de cenas gravadas originalmente para o filme, e que um terceiro, Fogo no Céu, tinha exatamente o mesmo enredo do filme (com exceção da parte do sabotador), reutilizando várias de suas cenas, em uma espécie de reafirmação de que, embora compartilhasse a mesma premissa e personagens, a série não tinha ligação com o filme.

A terceira temporada, de mais 26 episódios, que estreou em 18 de setembro de 1966, teve uma grande guinada de estilo: na época, as séries de maior sucesso eram aquelas de temática paranormal, então a Fox aproveitou e fez episódios envolvendo múmias, fantasmas, lobisomens, homens-sombra e todo tipo de criatura fantástica ameaçando a tripulação do Seaview. Até mesmo os episódios nos quais os perigos eram mais, digamos, mundanos, eram meio bizarros, como o primeiro, no qual o vilão era um cérebro sem corpo, e um no qual o Seaview tinha de deter um grupo de nazistas que não sabia que a Segunda Guerra Mundial tinha acabado. Apenas três episódios traziam temática da Guerra Fria ou de monstros marinhos, todos os três feitos a partir de roteiros não aproveitados da primeira temporada. Também é interessante notar que, durante a terceira temporada, nada menos que três séries de Allen estavam em produção pela Fox simultaneamente, já que Perdidos no Espaço estava em sua segunda temporada, e 1966 foi o ano de estreia de O Túnel do Tempo.

A audiência da terceira temporada foi bem menor que das duas anteriores, mas, mesmo assim, a ABC encomendou uma quarta, de mais 26 episódios, que estreou em 17 de setembro de 1967. Infelizmente, durante a quarta temporada, a Fox se perdeu, fazendo uma verdadeira salada nas viagens do Seaview: em um episódio, a ameaça era um mago de cinco séculos de idade; na semana seguinte, era a vez de uma invasão extraterrestre; no próximo capítulo, um vulcão submarino; e até mesmo dois episódios de viagem no tempo foram escritos. Buscando atingir um público maior, os episódios também se tornaram mais cômicos e com menos tensão, o que, de certa forma, descaracterizou a série e produziu o efeito contrário do esperado: a audiência caiu vertiginosamente. E caiu tanto que, após o último episódio, em 31 de março de 1968, a ABC anunciou que a série não seria renovada, sendo cancelada após quatro temporadas. Curiosamente, ela seria substituída na grade por outra série de Allen, Terra de Gigantes, que estrearia na ABC em setembro daquele mesmo ano.

Além de ter sido a primeira série de Allen, Viagem ao Fundo do Mar também foi a mais longeva, com quatro temporadas contra apenas uma de O Túnel do Tempo, três de Perdidos no Espaço e duas de Terra de Gigantes. Curiosamente, entretanto, também foi a única que não adquiriu status de cult. Talvez por isso, diferentemente do que ocorre com as outras, nunca se falou em remake, reboot, revival ou qualquer outro re. Pode ser porque, sendo tão ligada à Guerra Fria, a série tenha ficado datada, ou porque outras séries sobre submarinos, como SeaQuest, acabariam sendo produzidas no futuro, tirando um pouco do ineditismo. Seja como for, o Seaview está atracado, sem planos de zarpar novamente.
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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

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O Túnel do Tempo

Às vezes eu fico pensando no que será que as pessoas compram em DVD. Porque a justificativa oficial para um monte de coisas legais não serem lançadas é que "as pessoas não compram". Diante disso, eu gostaria de saber o que é que as pessoas compram. Ou talvez seja melhor não saber, para não ficar morrendo de raiva.

Enfim, eu não sei o que as pessoas compram, mas, aparentemente, elas não compram séries clássicas. Pelo menos essa é a justificativa oficial para séries como O Túnel do Tempo nunca terem sido lançadas oficialmente em DVD por aqui. Sim, eu sei que existe uma versão "pirata original", mas não é a mesma coisa. Pelo menos não para um colecionador.

Eu já venho querendo falar sobre O Túnel do Tempo há algumas semanas (se você acha que essa é uma frase que se repete muito por aqui, é porque eu fico sempre pensando em quais poderiam ser os próximos assuntos, então sempre tenho uns três ou quatro na cabeça, que fico adiando), então decidi que hoje seria um bom dia para fazer esse post. E, de quebra, desabafar sobre o descaso das distribuidoras com lançamentos de séries clássicas em DVD. Desabafo feito, vamos ao post!

O Túnel do TempoO Túnel do Tempo foi uma criação de Irwin Allen - sua terceira série, após Viagem ao Fundo do Mar e Perdidos no Espaço. Perdidos no Espaço, aliás, ainda estava no ar quando Allen foi procurado pelo canal ABC, no início de 1966. Naquele ano, a ABC estava perdendo audiência para suas duas principais concorrentes - a NBC e a CBS - e sua mais recente aposta, Batman, ainda não havia decolado. Diante do sucesso de Viagem ao Fundo do Mar e Perdidos no Espaço, os executivos da ABC chegariam à conclusão de que Allen entendia mais sobre o que o público queria ver do que eles, e pediriam para que ele criasse uma nova série de ficção científica.

Allen já vinha, há algum tempo, pensando em criar uma série que envolvesse viagens no tempo, mas a Fox - que produzia as séries criadas por Allen, vendendo-as, depois, para os canais - não queria dar a luz verde para um piloto sem o interesse concreto de um canal em exibi-la. A principal preocupação da Fox era que o piloto saísse muito caro, e depois acabasse engavetado. Quanto à primeira parte, eles realmente estavam certos: o piloto de O Túnel do Tempo, encomendado pela ABC, seria o episódio de série mais caro da história até então, custando nada menos que meio milhão de dólares, uma cifra obscena para a época. Quanto à segunda parte, eles felizmente se enganaram: a ABC ficou extremamente satisfeita com o piloto, e encomendou uma temporada completa, para ser exibida ainda em 1966.

A série é ambientada no futuro - mas não tão no futuro quanto parece, e sim em 1968, apenas dois anos à frente do ano no qual ela estreou. Nesse ano, o Projeto Tic-Toc, operação supersecreta do governo dos Estados Unidos, completa dez anos. O objetivo desse projeto é tornar viáveis as viagens no tempo, utilizando, para isso, um mecanismo experimental apelidado de Túnel do Tempo, devido ao seu formato cilíndrico e comprido. O Túnel do Tempo foi construído em segredo em uma base militar subterrânea no Arizona, e é operado por uma equipe de cientistas liderados pelo Dr. Douglas Phillips (Robert Colbert) e pelo Dr. Anthony Newman (James Darren), composta, ainda, pelo especialista em eletrônica Dr. Raymond Swain (John Zaremba) e pela electrobióloga Dra. Ann MacGregor (Lee Meriwether, que depois viria a interpretar a Mulher-Gato na série do Batman). Ao todo, o Projeto Tic-Toc emprega 36 mil pessoas, custando 7,5 bilhões de dólares por ano ao governo.

Por causa disso, como dez anos após sua criação ele não apresentou nenhum resultado digno de nota, o governo decide puxar a tomada. O Senado, porém, acha que seria um desperdício de fundos encerrar o programa assim sem mais nem menos, e envia o Senador Leroy Clark (Gary Merrill) para dar à equipe do Projeto um ultimato: a menos que a equipe envie alguém ao passado e o traga de volta durante a sua visita, sua recomendação será para que o programa seja encerrado, e o Túnel do Tempo desmontado.

Tony (como o Dr. Newman é conhecido por seus amigos íntimos) se voluntaria para ir, mas Doug (o Dr. Phillips) é contra, considerando o experimento muito perigoso. Tony contraria o colega e vai assim mesmo, não dando a Doug outra escolha senão segui-lo. Infelizmente para os dois, o Túnel não fuinciona como deveria: apesar de a viagem para o passado se mostrar um sucesso, eles se veem incapazes de retornar para o presente. Impressionado, o Senador Clark promete que o orçamento do Projeto não será cortado, e deixa um militar, o General Heywood Kirk (Whit Bissell), como supervisor, para garantir que todos os esforços sejam empregados para trazer Tony e Doug de volta antes que o Túnel possa ser considerado operacional.

Através do Túnel do Tempo, o Dr. Swain, a Dra. MacGregor e o General Kirk conseguem se comunicar com Tony e Doug, perceber em qual época eles estão, e até mesmo enviar ajuda, na forma de pequenos objetos. Eles não conseguem, porém, trazer a dupla de volta: toda vez que tentam, na verdade, os dois acabam sendo enviados para outro ponto no tempo, do passado ou do futuro. Os episódios colocam Tony e Doug em meio a acontecimentos históricos, como o naufrágio do Titanic, a Revolução Francesa e a Guerra de Troia, ou em contato com alienígenas e estranhas tecnologias presentes no futuro da humanidade. Em praticamente todos os episódios eles são tidos como "inimigos", capturados, e têm de encontrar uma forma de escapar para chegar a um "ponto de encontro", de onde a equipe do Túnel do Tempo tentará trazê-los de volta - e acabará os enviando para outra época.

Para cortar custos, a equipe de produção reaproveitaria cenários, fantasias e objetos de cena de várias produções cinematográficas e televisivas da Fox. Até mesmo cenas de filmes da Fox eram reaproveitadas, com as dos filmes em preto e branco, como Titanic, sendo colorizadas especialmente para isso. O único cenário construído especialmente para a série seria justamente a sala do Túnel do Tempo - que, na verdade, era uma parede, e se tornava um túnel através de uma combinação de uma ilusão de ótica com efeitos especiais aplicados na pós-produção. Todas as cenas externas seriam filmadas em um terreno de propriedade da Fox na Califórnia - o que, curiosamente, faria com que locais diversos como o Himalaia e a Ilha de Cracatoa acabassem ficando bem parecidos.

É interessante notar que, no universo da série, o tempo é simultâneo - passado, presente e futuro ocorrem todos ao mesmo tempo, e não de forma linear. A tecnologia do Túnel do Tempo, portanto, permite que seja visualizada uma determinada parte do tempo que os seres humanos já (ou ainda) não conseguem visualizar. O viajante do tempo, através do túnel, simplesmente se remove do "local do tempo" que está ocupando e passa a ocupar um local diferente. Não somente Tony e Doug podem ser afetados pelo Túnel; em alguns episódios, outros personagens, de propósito ou acidentalmente, são removidos de seu próprio tempo e colocados em um tempo diferente. Também fica estabelecido que os viajantes do tempo podem alterar o passado com suas ações, o que faz com que Tony e Doug tenham de ter cuidado para não alterar nenhum evento crucial, ou correrão o risco de não terem para onde voltar.

O Túnel do Tempo estrearia na ABC em 9 de setembro de 1966. A princípio, seriam encomendados 24 episódios, mas depois o canal encomendaria mais seis, para um total de 30 - por terem sido produzidos depois, esses seis últimos episódios trariam algumas diferenças em relação aos demais, como a falta da narração em off na abertura e alguns detalhes diferentes nos uniformes da equipe do Túnel do Tempo.

A princípio, a ABC colocaria a série nas sextas-feiras à noite - horário considerado ingrato na época, e reservado para as séries em risco de cancelamento; sua ideia, porém, era justamente levantar a audiência do horário, para tentar transformá-lo em um horário para novas apostas. De fato, a série seria bastante bem sucedida, com bons números de audiência e boas críticas, e acabaria sendo considerada pelos executivos da ABC como a melhor série de sua grade de programação naquele ano.

Infelizmente, porém, quando chegasse a época de renovar a série para uma segunda temporada, os executivos da ABC decidiriam por não fazê-lo. Na época, um dos maiores sucessos da TV era The Virginian, um faroeste exibido pela NBC, que ficaria no ar de 1962 a 1971, com nove temporadas e quase 250 episódios. Quando uma dupla de produtores apresentou à ABC a proposta de uma nova série de faroeste, cujo personagem central seria o famoso General Custer, mas na época em que ainda era um Tenente-Coronel, o canal preferiu descartar O Túnel do Tempo e fechar com Custer, imaginando que ela seria capaz de roubar audiência de The Virginian. Assim, O Túnel do Tempo seria cancelado após apenas 30 episódios, o último exibido em 7 de abril de 1967.

Caso interesse a alguém, Custer foi um gigantesco fracasso, com audiência baixíssima, detonado pela crítica e ainda sendo alvo de protestos de comunidades indígenas norte-americanas pelo modo como os índios eram retratados na série. Acabaria cancelada após apenas 17 episódios.

Tony e DougEmbora não tenha sido feito nenhum esforço para se trazer O Túnel do Tempo de volta após o cancelamento de Custer, a série logo se tornaria cult, sendo lançados nos anos seguintes vários livros, histórias em quadrinhos, e até mesmo um jogo de tabuleiro ambientados no mesmo cenário. Em 1982, com a legião de fãs ainda sendo grande, dez dos episódios seriam compilados e editados para se tornarem dois filmes feitos para a TV, que seriam exibidos em syndication, em vários canais que exibiram ou não a série nos anos anteriores - em algumas cidades, aliás, esses filmes foram a primeira vez em que O Túnel do Tempo foi exibido na TV.

Recentemente, foram feitas duas tentativas de ressucitar a série. A primeira, de 2002, chegou a ter um piloto gravado. Essa nova série seria bem mais sombria que a original; nela, o Túnel do Tempo é criado por acidente, quando o Departamento de Energia do governo dos Estados Unidos está fazendo um experimento com um reator nuclear capaz de gerar energia ilimitada. O reator sai do controle e cria uma "tempestade temporal", cujas ondas se espalham através do tempo, alterando vários eventos importantes - a União Soviética consegue chegar à Lua antes dos Estados Unidos, por exemplo. Para tentar remediar a situação, o governo reúne uma equipe, liderada por Doug Phillips (David Conrad), que tem a missão de viajar no tempo - usando o reator, que agora atua como Túnel do Tempo - e consertar o que foi mudado, para que a história volte ao normal. Curiosamente, nessa versão, Toni Newman (Andrea Roth) é mulher e um personagem bem coadjuvante, diferente do papel principal que Tony tinha na série original. Apesar de ter sido produzido pela própria Fox, o piloto acabou não sendo aceito pelo canal Fox, que preferiu investir em Firefly.

A segunda tentativa ocorreu em 2006, quando executivos do SciFi Channel procuraram a viúva de Allen, Sheila, e os dois produtores do piloto de 2002, e pediram para que um novo piloto fosse produzido. O roteirista John Turman (do Hulk de Ang Lee) chegou a escrever o roteiro, mas depois, por razões não divulgadas, a produção foi interrompida, e o piloto jamais chegou a ser filmado.

Por enquanto, é tudo o que há. Apesar de ter uma boa base de fãs, não há planos para fazer um filme ou uma nova série. Tony e Doug, por enquanto, continuam perdidos no tempo.
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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Escrito por em 17.12.12 com 0 comentários

Perdidos no Espaço

Alguns posts do átomo têm explicação. Outros, não. Essa semana, do nada, sonhei com o robô de Perdidos no Espaço. Foi até um sonho bem comum, sem nada de mais: eu não estava Perdido no Espaço, o robô é que, por algum motivo, estava dentro da minha casa. Era um daqueles sonhos nos quais ninguém interage com o robô, mas todo mundo - principalmente eu - o reconhece como sendo o robô de Perdidos no Espaço. Uma decoração de luxo, talvez.

Diante desse sonho tão bizarro, decidi escrever um post sobre Perdidos no Espaço. Principalmente porque é uma série da qual eu gosto muito, mas sobre a qual eu ainda não tinha escrito. Talvez o robô tenha mandado umas ondas cerebrais para me influenciar e corrigir esse equívoco.

Penny, Major West, Judy, o robô, Dr. Smith e John Robinson, com Maureen e Will Robinson sentadosPerdidos no Espaço foi criado por Irwin Allen, diretor de cinema que se tornaria conhecido por seus filmes-catástrofe da década de 1970, como O Naufrágio do Poseidon e Inferno na Torre, mas que na década de 1960 se aventuraria na televisão, começando por uma série baseada em seu filme Viagem ao Fundo do Mar, e mais tarde produzindo também os clássicos Túnel do Tempo e Terra de Gigantes.

Allen havia acabado de estrear sua série baseada em Viagem ao Fundo do Mar quando ofereceu à Fox uma nova, baseada no livro The Swiss Family Robinson, de Johann David Wyss, no qual uma família suíça viajando de navio para a Austrália sofre um naufrágio e se vê perdida em uma ilha do sudeste asiático. Allen faria uma pequena adaptação e transformaria a história em ficção científica, fazendo da Família Robinson exploradores espaciais viajando em uma nave, que sofre problemas e faz com que eles fiquem perdidos em um planeta desconhecido.

Originalmente, a série se chamaria The Space Family Robinson, e mostraria uma família composta de pai, mãe e três filhos - um adolescente, um pré-adolescente e uma criança - acompanhados de um piloto da aeronáutica. Um piloto (esse não da aeronáutica, mas de TV) chegou a ser gravado, mostrando a família embarcando em uma nave chamada Gemini 12, rumo a um planeta na órbita de Alfa Centauro, no ano de 1997. Uma chuva de meteoros, porém, desvia o curso da nave, e a família, viajando em animação suspensa, acorda quatro anos depois em um planeta desconhecido, no qual enfrentam monstros, viajam por um mar revolto e exploram ruínas de uma antiga civilização enquanto buscam um local para montar acampamento e pensar em como contactar a Terra para avisar que se perderam.

O piloto foi oferecido ao canal CBS - que, pouco antes, havia rejeitado Jornada nas Estrelas - e aprovado. Allen, porém, se deparou então com uma potencial acusação de plágio: sem que ele soubesse, a editora Gold Key Comics já havia lançado uma revista chamada The Space Family Robinson, que, por acaso, usava a mesmíssima ideia do produtor, adaptando The Swiss Family Robinson para um cenário espacial. Depois de muitas negociações entre a Fox e a Gold Key, o estúdio conseguiu um acordo para produzir a série, desde que não adaptasse as histórias em quadrinhos para seus episódios, e não fizesse qualquer referência ao fato de a série ser baseada no livro. Para torná-la ainda mais diferente das histórias em quadrinhos, e evitar comparações, Allen ainda decidiria incluir dois personagens novos, um clandestino que seria uma espécie de vilão, tendo sabotado a nave e planejando matar os Robinson, e um robô que protegeria a família das investidas do vilão e os ajudaria a sobreviver no planeta inóspito. A Fox só não abriria mão do uso do nome Robinson, que considerava mais do que apropriado para uma família naufragada (vide Robinson Crusoé), concordando em pagar uma indenização à Gold Key e em mudar o nome da série para Lost in Space para não ter de trocá-lo.

Tudo acertado, um novo piloto foi gravado, que serviria também de primeiro episódio da série. Nele, o ano é 1997, e a Terra passa por uma crise de superpopulação. A família Robinson é sorteada dentre milhares de inscritos para viajar na nave Jupiter 2 (o nome Gemini 12 não agradou, e eles aproveitaram para trocá-lo) rumo a Alfa Centauro, onde sondas espaciais detectaram haver um planeta próprio para a colonização humana. Os Robinson, compostos pelo pai, John Robinson (Guy Williams), famoso astrofísico, a mãe, Maureen (June Lockhart), renomada bioquímica, e os filhos Judy (Marta Kristen), de 19 anos, Penny (Angela Cartwright), de 11, e Will Robinson (Billy Mummy), de 9 anos e prodígio da eletrônica, serão acompanhados do Major da Aeronáutica Don West (Mark Goddard), capacitado para pilotar a nave caso algum dos sistemas automáticos apresente defeito, e por um robô Classe M3 Modelo B9 ("interpretado" por Bob May e dublado por Dick Tufeld, que também era o narrador da série), capaz de analisar amostras de solo e ar, escanear ambientes em busca de ameaças e operar todos os sistemas da nave, além de estar armado com diversos dispositivos que serão muito úteis à família em caso de acidentes no planeta. Sem que eles saibam, entretanto, a nave levará também um clandestino: o psicólogo Dr. Zachary Smith (Jonathan Harris), na verdade um espião de um governo estrangeiro, enviado para sabotar a missão. Smith reprograma o robô para destruir componentes importantes da nave, mas se atrapalha e acaba preso dentro da nave antes do lançamento, e seu peso, não levado em contra pelos projetistas, faz com que a nave se desvie de seu curso, sendo atingida por uma chuva de meteoros e caindo em um planeta desconhecido e não-mapeado. Os cinco Robinsons, o robô e o clandestino, então, se veem perdidos sem qualquer esperança de resgate, tendo que explorar o planeta, sobreviver, e buscar eles mesmos uma forma de voltar à Terra.

Duas histórias curiosas envolvem Jonathan Harris: primeiro, como ele não estava presente no piloto original, sendo o último ator contratado, Allen queria que seu nome viesse por último na abertura, o que ele só concordou caso fosse identificado como "Ator Especialmente Convidado"; assim, embora o Dr. Smith seja um dos personagens mais importantes do seriado, Harris é creditado do primeiro ao último episódio como convidado, e não como parte do elenco regular. Segundo, os roteiristas não gostavam do personagem, e planejavam matá-lo ainda na primeira temporada; como Harris gostava da série, Allen recomendou que ele mesmo redefinisse seu personagem, tornando-o mais popular para motivar os roteiristas a escrever mais sobre ele. Isso fez com que o Dr. Smith do início da série fosse mais sério e muito mais malvado, enquanto os últimos episódios da temporada já o mostrassem como um covarde exibido, disposto a tudo para salvar a própria pele. Harris chegou até mesmo a reescrever seus diálogos para chegar a essa personalidade, criando praticamente sozinho a imagem do Dr. Smith - que, nos anos seguintes, se tornaria um dos personagens mais famosos da ficção científica.

A primeira temporada estrearia em 15 de setembro de 1965, com um total de 29 episódios - o padrão na época. O foco era na ação e aventura, mostrando a Família Robinson como pioneiros do espaço, enfrentando alienígenas hostis e lutando para sobreviver em um ambiente desconhecido. Por razões financeiras, vários episódios utilizariam cenas gravadas para o piloto original, que jamais foi televisionado. Também para cortar custos, a primeira temporada seria filmada em preto e branco, embora os efeitos especiais fossem filmados em colorido e depois transferidos para o filme preto e branco para maior realismo. Esse realismo renderia à série uma indicação ao Emmy de Melhores Efeitos Especiais, que perderia, talvez ironicamente, para Viagem ao Fundo do Mar.

A série passaria a ser filmada em colorido a partir da segunda temporada, que estrearia em 9 de setembro de 1966, com mais 30 episódios. O motivo seria a concorrência de Batman, que estreou na ABC em janeiro do mesmo ano com grande estardalhaço, roubando muito da audiência da segunda metade da primeira temporada de Perdidos no Espaço. Para combater fogo com fogo, a CBS optou por fazer de Perdidos no Espaço uma série com uniformes coloridos, vilões maníacos e situações cômicas, o que desagradou a alguns dos fãs antigos e a parte do elenco - Guy Williams e Mark Goddard chegaram a protestar quanto ao abandono da ficção científica "séria" - mas se refletiu em aumento de audiência. Os episódios agora eram muito mais centrados no Dr. Smith - já assumidamente um apoio cômico ao invés de um vilão - em Will Robinson e no robô, com os outros personagens quase não aparecendo. Para justificar a mudança de tom, a CBS usou um argumento bizarro: nos primeiros episódios, a Jupiter 2 é consertada e sai viajando pelo espaço rumo à Terra, só para cair em um segundo planeta desconhecido e deixar os Robinsons naufragados de novo.

Para a terceira temporada, que estrearia em 6 de setembro de 1967, com mais 24 episódios, os roteiristas expandiriam essa ideia: com a Jupiter 2 novamente consertada, os Robinson deixariam de ser náufragos e se tornariam exploradores, visitando a cada semana um planeta diferente enquanto tentavam voltar à Terra. Alguns episódios eram mais centrados na ação, lembrando um pouco a primeira temporada, mas os episódios cômicos foram os mais bizarros de todos, com vegetais falantes, hippies espaciais e até mesmo um concurso de beleza intergaláctico. A terceira temporada era composta de episódios fechados com pouca interferência uns nos outros, diferentemente das duas primeiras, que apresentavam histórias em arco. A terceira temporada teria mais uma indicação ao Emmy, dessa vez de Melhores Artes Visuais e Maquiagem, perdendo para Rowan and Martin's Laugh-In Special, da NBC.

Quando a terceira temporada se aproximava de seu final, em fevereiro de 1968, o elenco recebeu a notícia de que o seriado seria renovado para uma quarta, e que em breve eles teriam a opção de renovar seus contratos. Em maio, entretanto, a CBS divulgou uma lista das suas séries que não seriam renovadas para uma nova temporada, e Perdidos no Espaço estava entre elas. O anúncio pegou o elenco e grande parte da equipe técnica de surpresa, e, pior ainda, a CBS jamais ofereceu uma razão para o cancelamento, apenas anunciou que a série não seria renovada e pronto.

A teoria mais aceita para o cancelamento tem a ver com motivos financeiros: Perdidos no Espaço era uma série caríssima, custando mais de 150 mil dólares por episódio, uma grande fortuna para a época, quase o dobro do que custava, por exemplo, um episódio de Jornada nas Estrelas - e, já que estamos comparando, até mesmo os cenários de Perdidos no Espaço eram mais caros, com o interior da Jupiter 2 sendo o cenário mais caro feito para uma série de TV até então, custando 350 mil dólares, mais de 100 mil dólares a mais que o interior da Enterprise. A maior parte desse orçamento ia para os salários dos atores, que, com o sucesso da série, aumentavam a cada temporada, com os de Harris, Kristen e Cartwright quase tendo dobrado da primeira para a terceira. Para azar da série, a Fox, na época, ainda se recuperava de um estouro de orçamento épico (desculpem o trocadilho) durante as filmagens de Cleópatra, e exigiu que Allen cortasse os custos de Perdidos no Espaço. Como ele não aceitou, a série foi cancelada.

Outra teoria diz respeito à falta de interesse dos atores em continuar na série. Os episódios bizarros da terceira temporada tinham uma explicação lógica: segundo pesquisas, cada vez mais crianças assistiam à série, então os novos episódios eram escritos com o público infantil em mente. Isso teria desagradado ao diretor Don Richardson, que deixou a equipe antes mesmo do cancelamento, anunciando que, mesmo que a série fosse renovada, ele não retornaria. June Lockhart, que também estava insatisfeita, declarou que voltaria caso ocorresse a renovação, mas, assim que o cancelamento foi anunciado, ela passou para o elenco de outra série da CBS, Petticoat Junction. Outro notoriamente insatisfeito era Guy Williams, que não se furtava a declarar sua insatisfação com os rumos cômicos do programa e com a diminuição da importância de seu personagem em prol do Dr. Smith. Desiludido com o mundo da televisão, após o cancelamento Williams se aposentou e foi morar na Argentina.

Seja qual for o motivo, o último episódio de Perdidos no Espaço foi ao ar em 3 de março de 1968. A série ainda continuaria sendo exibida em syndication por vários canais dos Estados Unidos durante a década de 1970, mas o fato de sua primeira temporada ser em preto e branco não contribuía com a audiência. Assim como Jornada nas Estrelas, Perdidos no Espaço seria praticamente esquecida até 1979, quando o canal TBS voltou a exibi-la. Por um desses milagres da TV que ninguém entende, a série teve excelente audiência, ficando no ar no canal durante cinco anos e, desde então, se tornando cult.

Após esse novo sucesso, Bill Mummy tentou convencer Allen a produzir um filme para o cinema de Perdidos no Espaço com seu elenco original, mas o produtor não se mostrou interessado. O próprio Mummy, então, começou a escrever alguns roteiros para tentar convencer os executivos da Fox, mas o projeto jamais seria levado adiante. Até 1991, quando uma pequena editora chamada Innovation Comics decidiria lançar uma revista em quadrinhos baseada em Perdidos no Espaço, e procuraria a Fox para obter as licenças necessárias. Ao ficar sabendo dos roteiros de Mummy, ela entraria em contato com o ator e o contrataria como roteirista da revista. Perdidos no Espaço foi o maior sucesso da Innovation Comics, vendendo mais do que todos os seus outros títulos somados, mas, mesmo assim, só duraria 18 edições mensais, 2 anuais e a primeira parte de uma minissérie, sendo cancelada não por sua vendagem, mas por problemas financeiros da editora, que iria à falência no final de 1992. Em 1993, o espólio da editora ainda conseguiria publicar uma edição especial, fechando a história da minissérie e a série em quadrinhos como um todo.

Perdidos no Espaço também quase viraria desenho animado, com a Hanna-Barbera produzindo um piloto em 1972. O piloto, porém, tinha muito pouco a ver com a série, com os únicos personagens originais sendo o Dr. Smith (dublado por Harris, e que fazia parte da equipe voluntariamente) e o robô (que se chamava Robon e era o piloto da nave, que não tinha nome), com todos os demais personagens sendo novos. Evidentemente, o piloto não agradou, e a série jamais foi produzida.

A chegada da série aos cinemas se daria não pelas mãos de Allen e da Fox, mas da New Line Cinema, que adquiriria os direitos de filmagem para o cinema em 1995. Lançado em 1998, o filme, ambientado em 2058, era bastante fiel ao piloto, com o Dr. Smith sendo maligno e a família tendo de lutar para sobreviver em um ambiente hostil. Algumas decisões equivocadas, como a inclusão de viagens no tempo no enredo, e, principalmente, a falta do humor característico das duas últimas temporadas da série fariam com que o filme fosse um fracasso, sendo massacrado pela crítica e rendendo 10 milhões de dólares a menos do que custou. O elenco era estelar: William Hurt como John Robinson, Mimi Rogers como Maureen, Gary Oldman como o Dr. Smith, Heather Graham como Judy, Lacey Chabert (também conhecida como Elisa Thornberry) como Penny, e Matt LeBlanc (o Joey de Friends) como o Major West, além do novato Jack Johnson como Will Robinson. Lockhart, Goddard, Cartwright e Kristen fizeram participações especiais, e Dick Tufeld, mais uma vez, emprestou sua voz ao robô.

Para chamar atenção para o lançamento do filme, o Sci Fi Channel programou várias maratonas do seriado, com os episódios intercalados por entrevistas com os atores e produtores, culminando com um especial de uma hora chamado Lost in Space Forever, um documentário sobre a série apresentado por Bill Mummy e Jonathan Harris interpretando Will Robison e o Dr. Smith, junto com o robô. No final, eles "percebem" que estão "Perdidos no Espaço para sempre" - o nome do especial em inglês. O especial foi bem recebido, e Harris começou a planejar com o roteirista, diretor e produtor William Winckler, responsável pelo especial e seu amigo pessoal, um filme para a TV reunindo todo o elenco original, com o título Lost In Space: The Journey Back Home ("a volta par casa"). Infelizmente, pouco antes de começarem as filmagens, em 2002, Harris teve uma trombose e faleceu, o que fez com que o filme jamais saísse do papel.

A equipe de produção, entretanto, achou que Perdidos no Espaço poderia ser um bom candidato para um remake, e decidiu usar alguns dos elementos previamente reservados para o filme para produzir um novo piloto. Chamado The Robinsons: Lost in Space, esse piloto seria financiado pelo Warner Channel, e produzido em conjunto pela Fox, Synthesis Entertainment, Irwin Allen Productions e Regency Television. Dirigido por John Woo (ele mesmo, de A Outra Face e Missão Impossível 2), o piloto incluía um novo filho mais velho para a família, David Robinson, diminuindo um pouco as idades de Judy e Penny, e não tinha am presença do Dr. Smith, embora o Major West fosse um personagem dúbio e propenso à traição. A família viaja pelo espaço em uma grande nave-mãe, da qual a Jupiter 2 é apenas uma nave de transporte, e o robô é bem mais humanoide e voltado para tarefas domésticas. O piloto não agradou aos executivos da Warner Bros, e a série jamais foi produzida. Seus cenários acabariam comprados pela equipe de produção de Battlestar Galactica, que os reciclaria para construir o interior da Battlestar Pegasus.

Até agora, esse malsucedido piloto foi a última encarnação de Perdidos no Espaço. Pelo jeito, resolveram deixar a Família Robinson em paz lá em seu planeta perdido no universo. Pelo bem da memória da série clássica, eu apoio.
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